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Transporte vive cenário econômico de avanço em passageiros e setor aéreo, mas houve recuo em cargas, afirma boletim da CNT

Dados apontam que inflação elevada, tarifas dos EUA e juros altos pressionam economia brasileira no segundo semestre
O Boletim de Conjuntura Econômica de julho de 2025, divulgado nesta quinta-feira (17) pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), revela um cenário desafiador para a economia brasileira, com inflação persistente, taxa de juros elevada e atividade econômica desaquecendo. Apesar do cenário, todos os segmentos de transporte operam acima dos níveis anteriores à pandemia.
Entre os fatores de maior preocupação, estão os impactos da imposição pelos Estados Unidos de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto, somada às tarifas já vigentes. A medida atinge setores estratégicos da indústria e do agronegócio, já que o destino norte-americano é o principal para diversos produtos nacionais. Com menor competitividade em função da tarifa, pressupõe-se queda nas exportações, afetando, por consequência, as empresas de transporte, operadores logísticos e motoristas.
A CNT alerta que tarifas brasileiras sobre produtos americanos podem aumentar as tensões comerciais e afetar negativamente o comércio bilateral. Para reagir, o país precisará diversificar mercados e alternativas logísticas, o que envolve também investir em infraestruturas de transporte para atender a novos mercados e manter a competitividade externa.
O Boletim destaca que a inflação permanece acima do teto da meta para o ano pelo nono mês consecutivo. Em junho, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) aumentou 0,26% e acumula alta, em 12 meses, de 5,35%, superando o limite de 4,5%, definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Os maiores aumentos foram registrados nos grupos de Educação (5,19%) e Habitação (3,8%).
No grupo Transportes, houve alta de 0,27% no mês, impulsionada pelos aumentos no transporte por aplicativo (13,77%) e no aluguel de veículos (5,45%). Por outro lado, os combustíveis apresentaram queda, com destaque para o óleo diesel (-1,36%) e o gás natural veicular (-1,10%).
Em resposta à inflação elevada, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou novamente a taxa Selic para 15% ao ano. A medida busca conter a inflação, mas encarece o crédito, inibe investimentos e afeta o câmbio. A expectativa do mercado, segundo o relatório Focus, é que a taxa permaneça nesse patamar até o fim do ano. A projeção para o IPCA, ao final de 2025, é de 5,17%.
O Boletim também observa estabilidade recente na taxa de câmbio, que apresentou média de R$ 5,55 em junho e chegou a R$ 5,41 no início de julho, o menor valor desde agosto de 2024. No entanto, a perspectiva é de valorização do dólar ao longo do segundo semestre, com expectativa de encerramento do ano em R$ 5,65/US$.
Já os dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) apontam crescimento de 0,1% no volume de serviços em maio. O setor de transporte teve queda de 0,3% no volume de serviços em maio em relação a abril. O transporte aéreo cresceu 4,5%, mas o transporte aquaviário caiu 1,6%. Os serviços auxiliares a transporte tiveram queda de 2,4%. O volume de passageiros cresceu 3,3% no mês e já supera em 9,4% o nível pré-pandemia. Já o transporte de cargas caiu 0,5%, mas ainda opera 34,4% acima do patamar de fevereiro de 2020.
No campo da atividade econômica, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), indicador que antecipa o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), recuou 0,7% em maio, frente ao mês anterior, frustrando as expectativas do mercado. Apesar do recuo, o nível de atividade ainda está 11,1% acima do registrado antes da pandemia. O crescimento do PIB em 2025 é projetado em 2,23%, mas os riscos permanecem elevados diante dos cenários fiscal e internacional.